Qual o Tratamento do Olho Seco?
Como a Síndrome do Olho Seco é uma doença multifatorial, o seu tratamento objetiva o melhor controle dos fatores associados.
Embora em muitos casos os sintomas não possam ser completamente eliminados, a otimização terapêutica para cada caso possibilita o alívio dos sintomas e a melhora da qualidade de vida.
1. Higiene Palpebral para Disfunção das Glândulas de Meibomius / Blefarite
A higiene palpebral diária para o tratamento da Disfunção das Glândulas de Meibomius/ Blefarite é de extrema importância para evitar o olho seco e deve ser realizada em 3 etapas:
1.1. Aquecimento das Pálpebras
O uso de compressas mornas favorece o amolecimento das secreções gordurosas solidificadas, sendo convertidas novamente em óleo, permitindo que se forme a camada lipídica do filme lacrimal e retardando a evaporação da lágrima.
1.2. Massagem das Pálpebras
A massagem das pálpebras permite eliminar as secreções gordurosas liquefeitas das glândulas após o aquecimento com as compressas mornas.
1.3. Limpeza das Pálpebras com Xampu Neutro
A limpeza das pálpebras e margem palpebral com xampu neutro tem a função desengordurante da base dos cílios para melhora da Blefarite e deve ser feita diariamente, pois as glândulas produzem as suas secreções todos os dias.
Limpeza palpebral com Xampu Neutro
2. Tratamento das Lágrimas
2.1. Suplementação das Lágrimas
O uso de colírios lubrificantes tem a função de suplementar a lágrima com substâncias que visem a sua melhor estabilização para alívio dos sintomas do ressecamento ocular.
Para casos de olhos secos leves, pode-se usar lubrificantes com conservantes até 4-6 vezes ao dia.
No entanto, os colírios lubrificantes sem conservantes, líquidos e especialmente em gel, são os ideais, principalmente para os casos mais graves e com necessidade de uso maior que 6 vezes ao dia.
Os colírios lubrificantes com conservantes contendo cloreto de benzalcônio e o EDTA, assim como os colírios com vasoconstrictores que não possuem ação lubrificante, devem ser formalmente evitados para não agravarem os sintomas do olho seco.
A ação do colírio lubrificante na estabilização da lágrima possibilita que o filme lacrimal, que antes evaporava antes de 10 segundos, fique sem evaporar até os 10 segundos, com melhora do tempo de ruptura do filme lacrimal (BUT > 10 segundos).
Com o uso do lubrificante, há também a melhora da dinâmica do filme lacrimal, que pode ser observada nos resultados do Mapa do Filme Lacrimal do Exame HD Analyzer – Optical Quality Analysis System, descrito em detalhes na Sessão Exames – Avaliação da Qualidade Visual.
2.2. Retenção das Lágrimas
2.2.1. Oclusão dos Pontos Lacrimais
A oclusão dos pontos lacrimais – as vias de drenagem da lágrima – visa manter por mais tempo na superfície ocular, a pouca lágrima produzida pelos portadores de olho seco, permitindo um grande alívio dos sintomas em vários casos.
Este é um procedimento simples e deve ser considerado para os olhos secos sintomáticos, com Teste de Schirmer com anestesia menor que 5 mm, em 5 minutos, e evidências de lesão celular – ceratite.
A oclusão dos pontos é geralmente realizada com a inserção de plugs de pontos lacrimais, inferiores e/ou superiores. Os plugs podem ser feitos com diversos materiais, como silicone, colágeno, acrílico, dentre outros. A oclusão dos pontos também pode ser feita com fio de Catgut.
Inicialmente a oclusão dos pontos lacrimais deve ser feita de forma temporária, pois se houver extravasamento de lágrima, condição denominada de epífora, basta remover a oclusão para melhora deste sintoma.
Quando a oclusão temporária foi benéfica e não causou o efeito colateral da epífora, pode ser realizada a oclusão definitiva dos pontos lacrimais.
2.2.2. Óculos de Câmara Úmida
Os óculos especiais com proteção lateral, desenvolvidos para portadores de olho seco, promovem aumento da umidade periocular, com melhora do desconforto ocular e protegem dos raios ultravioletas, do vento, da poeira e de agentes irritantes.
2.2.3. Lente de Contato Escleral
As lentes de contato esclerais são elaboradas com desenho e material especiais para protegerem e hidratarem a superfície ocular. Essas lentes são rígidas gás-permeáveis, de tamanho grande para recobrir a esclera e proporcionam melhora dos sintomas de olho seco em muitos casos.
2.3. Estimulação das Lágrimas
As substâncias capazes de aumentar a produção de lágrimas são chamadas de secretagogos. Destas, a pilocarpina e a cevilemine, por via oral, podem ser usadas para o aumento da produção de lágrimas. Várias pesquisas têm sido realizadas para que também colírios secretagogos possam ser utilizados com essa finalidade.
2.4. Substitutos Biológicos das Lágrimas
2.4.1. Soro Autólogo
Para casos muito graves de Olho Seco, a lubrificação ocular pode ser realizada com o colírio de soro autólogo, ou seja, resultante do processamento de substâncias do sangue do próprio portador. Para isto, o sangue é coletado e centrifugado, sendo retirado da porção do soro, o plasma rico em plaquetas, com substâncias regeneradoras e protetoras.
2.4.2. Autotransplante da Glândula Salivar
Para casos muito graves de Olho Seco, uma alternativa de tratamento é o transplante da glândula salivar do próprio portador, para a porção lateral da pálpebra superior, ao lado da glândula lacrimal, para que a glândula transplantada possa lubrificar a superfície ocular.
Das glândulas salivares (sublingual, submandibular e parótida), apenas a glândula submandibular é redirecionada nesta cirurgia multidisciplinar realizada pelos cirurgiões bucomaxilo e oftalmológico.
3. Tratamento da Inflamação
3.1. Corticóide, Ciclosporina, Tacrolimus
O uso de colírio de corticóide no tratamento do Olho Seco tem um efeito antiinflamtório significativo, com melhora dos sinais e sintomas oculares.
O colírio de ciclosporina, bem como o colírio e a pomada do tacrolimus também tem efeitos antiinflamatórios significativos para casos de olhos secos de maior gravidade.
3.2. Antibiótico Tetraciclina e Derivados
O antibiótico tetraciclina e seus derivados, como a doxiciclina e a minociclina, além de possuirem propriedades antibacterianas, também têm grande ação inflamatória.
Estes antibióticos promovem um melhor controle da inflamação, pois inibem a formação de vasos devido à sua ação antiangiogênica.
O melhor controle da Disfunção das Glândulas de Meibomius e da inflamação da Blefarite proporciona o alívio dos sintomas destes portadores de olho seco.
3.3. Dieta Antiinflamatória, Ômega 3, Vitaminas A, C e D
Os ácidos graxos essenciais não são produzidos pelo organismo e precisam ser obtidos pela dieta.
O ômega 3 tem grande efeito antiinflamatório, melhorando os sintomas dos portadores de olho seco e a sua ingesta pode ser realizada com alimentos e/ou com a suplementação de cápsulas de óleo de peixe e óleo de linhaça.
O ômega 3 é encontrado em grande quantidade nas peles dos peixes sardinha, arenque, salmão e atum, nos óleos vegetais, nas nozes e nas sementes de chia e de linhaça.
A suplementação das Vitamina A, Vitamina C e Vitamina D também é importante para a melhora dos sintomas dos portadores de Olho Seco, pois estas vitaminas são benéficas para o metabolismo da superfície ocular.
É importante ressaltar que os alimentos inflamatórios, ricos em carboidratos, gordura e carnes vermelhas, devem ser evitados na dieta de maneira geral, mas especialmente na dos portadores de olho seco.
3.4. Terapia Hormonal com Andrógenos
Algumas pesquisas têm avaliado o uso de hormônios, com preparações tópicas de andrógenos e estrógenos, para o tratamento antiinflamatório do olho seco, tendo sido observado um efeito benéfico no controle da Blefarite com pomadas de testosterona.
4. Controle dos Fatores Ambientais
Os fatores que aumentam a evaporação da lágrima e/ou diminuem a produção de lágrimas devem ser minimizados ou eliminados, para o melhor conforto dos portadores de olho seco.
São importantes medidas preventivas: o hábito de piscar com maior freqüência e maior eficiência, os cuidados para evitar a Síndrome Visual do Computador, o hábito de remover a maquiagem dos olhos diariamente, o uso de umidificadores de ambientes, a modificação de medicações que interfiram nas lágrimas, a suspensão de lentes de contato, o uso de máscaras de dormir noturnas, dentre outros.